Critérios à parte, tanto faz a tela escolhida. Jogo ou cinema com filme clássico? Copa do Mundo ou oração em jejum? Líder religioso diz aos fiéis que é momento de um retiro. Adeus narração de Galvão Bueno, é tempo de retidão. Perdição da Copa do Mundo, estamos sendo enganados. É tanto circo que eu perdi a conta. É, na mesma época dos jogos do Brasil, cinemas paulistas indicam filmes que fizeram sucesso num passado glorioso. Cult é questão de gosto. Oração e salvação também.
Embora para junho, que tem para todos os gostos.
O Brasil não está preparado para receber tantos turistas. Dizem que o número para o evento esportivo é infinitamente menor do que para o Carnaval no Rio de Janeiro ou para uma feira de negócios em São Paulo. Mesmo assim é ventilado o caos. Imagina na Copa? Como se a Copa fosse multiplicar alemães, japoneses e americanos por todos os cantos. Vá de retro, metrô lotado! Eles chegarão eufóricos para conhecer um país tão exótico. Somos isso, não? Sinto-me num palco. Vão experimentar nossa caipirinha, nossa feijoada; nossos pontos para lá de turísticos. A orientação de nem ligar a televisão pode ter uma relação íntima com esse banho gourmet da nossa miscigenação.
Vamos para Pasárgada comer cachorro-quente mais caro da história!
Cachorro-quente, sim, é uma discussão prá lá de tentadora. Não quero saber do piso frio da Maracanã, nem dos vidros que cintilam cores berrantes – menos o verde – no Itaquerão. Quero saber mesmo a receita do cachorro-quente. Hot-dog para todos que vierem de fora do país. Padrão FIFA já era. Padrão Brasil, inaugurada pela Nova Era da “presidenta”. Mas é o padrão do Hot-dog? Só sei de uma coisa: vai ser caro. Caro como será a cerveja, proibida nos estádios, mas ao mesmo tempo liberadas. Vai entender nossos políticos, nossa legislatura; nossa cruel jurisprudência. Caro como o refrigerante, como a hóstia, como o dízimo. Haja tanta grana para nos libertar de tantos sonhos. Não vai ter Copa desse jeito, nem lanche e nem churrasquinho de gato. Mas vai ter farra, vai ter cerveja; vai ter gol. Como explicar que aquele gato é bovino para um espanhol, argentino ou belga?
Cinema ou televisão? Houve um tempo que grandes jogos eram reprisados em telas de cinema. Hoje o horror domina. O campeonato brasileiro, que esfriou mais um pouco com essa parada para copa, “quem” nos diga. Vai ver que nascemos mesmo para oração, ficar longe do ufanismo exagerado pela seleção brasileira. Verde e amarelo no balanço da crise do Banco Central e suas beiradas: não temos muito o que comemorar. Mas vai ter Ivete Sangalo, vai ter hino cantado certinho: a primeira parte não engana ninguém. Que letra complicada! Saudosista pelo hino cantado na entrada das escolas, os moleques e as meninas em fileira. Ouviram o Ipiranga? Ipiranga deve ser mártir, herói; ele disse coisa boa – Eu pensava quando era adolescente.
O Brasil da seleção vai fazer um papel razoável. Acho que será campeão. Ainda sabemos jogar futebol, ainda temos grandes jogadores; não sei até quando. Mas o papel fora de campo será estressante: brigas, revoltas e pequenos orquestrados arrastões. Não vai ter arruaça: o país inteiro é do bem, o país inteiro é educado; o país inteiro é honesto. Uma dúzia, sei lá; meia dúzia; esses acabam com nossa expectativa de um país melhor. Mascarados ou não, infiltrados ou não; alguns são bandidos; e a ideologia marcante é tomar o que não é seu, simplesmente.
Sento-me a frente da televisão. Nem me meti nesse negócio de gastar um dinheiro que eu não tenho só para ver a Copa do Mundo de perto. A Copa, afinal, está ao meu lado. E vai começar, querendo ou não; com grandes acertos e terríveis derrotas. Puxo um ronco no meio de uma partida sem graça e me preocupo mesmo como é o verdadeiro Hot-dog – Essa discussão interminável que vale a pena: como é o hot-dog tradicional para você?